segunda-feira, 10 de agosto de 2009

Nos tempos do Quitandinha

A década de sessenta foi a década das transformações, a década da preparação para as mudanças que ocorreriam nas décadas seguintes que mudariam os costumes no mundo inteiro. João Gilberto derramava sua bossa nova pelo Brasil e depois para o mundo com canções de Tom Jobim, seguido por outros jovens de classe média carioca que embalavam ao som da bossa nova. Chuby Cheker derrama seu twist pelas badaladas casas noturnas do mundo inteiro, que ao contrário do Rock and Roll de Elvis Presley, Litlle Richard e Chuck Berry, preferido por uma juventude chamada de transviada, foi acolhido pela classe média alta.

As lambretas estavam na moda, pilotada por jovens de classe média sempre com uma garota na garupa. Não se falava em drogas, maconha, cocaína. A bebida da moda era a Cuba Libre ou Hi-fi feito com vodca misturada com Crush. Os carros da moda eram o Fusca, o DKV Vemag e o Dolphine ou seu substituto Renalt Gordine.

Na aviação, o Convair, o Caravelli e o elegante Constelattion, sobrevoavam os céus brasileiros e do mundo. Os ônibus da Viação Cometa eram o terror das estradas devido a velocidade que trafegavam. Os Beatles ainda não tinham estourado nas paradas de sucesso. Ronnie Cord era o ídolo da juventude com seu "Biquíni de bolinhas amarelinhas" cantado em inglês e Carlos Gonzaga permanecia nos primeiros lugares das paradas de sucesso com a música Diana.

Santo André não era ainda uma cidade dormitório, não havia bandidos, assaltos a mão armada, grades nas portas e janelas das casas. As Rhodias, a Lanifício Kowarik, a Fabrica Tongnato, Firestone, Pirelli e mais algumas indústrias de porte, empregavam boa parte da população andreense. Santo André tinha seu comércio sendo seus proprietários moradores da cidade, como as Casas Veronesi, a Casa Henrique, o Bazar Beletato, com exceção das Casas Pernambucanas, Sears Rebuck, Drogasil e as Lojas Americanas.

As únicas discotecas da cidade eram as "Discoteca Tapuias", na Bernardino de Campos e a "Discoteca Aldo" ao lado da Drogasil, na Rua Coronel Oliveira Lima. Na Praça Embaixador Pedro de Toledo, ou Largo da Estátua, como era conhecida, o Cadillac preto do Tio, sempre com seu charuto na boca, era o táxi mais disputado.

A rua principal era a Rua Coronel Oliveira Lima que abrigava a maior parte do comércio, e era também o point, palavra desconhecida na época, dos jovens andreenses de classe média, os chamados playboys. A lanchonete "Lanches Aki" na Bernardino de Campos, o "Hot Dog" que popularizou o cachorro quente, onde a atração era um rapaz afeminado, tipo raro na cidade, que preparava e servia os deliciosos '"dogs". A lanchonete das "Lojas Americanas" era onde se podia tomar um frapê de coco, banana split ou um sunday. O "Restaurante Charruá", numa travessa da Oliveira Lima, oferecia um bom churrasco ao som de música paraguaia acompanhada de harpa.

O ponto de encontro dos jovens da classe média andreense era o "Bar Quitandinha", na esquina da Rua Cel. Oliveira Lima próximo a Praça do Carmo. A lanchonete "A Praça", na Praça do Carmo não existia. Do outro lado da Oliveira Lima, na esquina com a Rua Monte Casseiros, havia o Colégio São José, onde outro grupo de rapazes, não de classe média como os vizinhos do "Bar Quitandinha", mas filhos de operários, pequenos comerciantes faziam ponto.

Alguns desses rapazes freqüentavam o outro lado da rua junto dos rapazes de classe privilegiada e vice versa. Não se tratava de gangues rivais, aliás, longe estavam de serem classificados como gangues. Viviam em perfeita harmonia entre eles e com quem quer que fosse.

Aos sábados e domingos a noite, as filas para as duas sessões de cinema dos "Cines Tangará" e "Carlos Gomes", chegavam a dobrar a esquina, formadas por uma uma multidão elegante, os homens trajando terno e gravata e as mulheres com seus melhores vestidos, a chamada "roupa de domingo".

As matinês de domingo, sempre com dois filmes, eram frequentadas na maioria por jovens e adolescentes que iam para namorar ou arranjar namorada. Rock Hudson e Gina Lolobrigda eram os preferidos dos frequentadores do cinema. Brigite Bardot escandalizava pessoas puritanas por se exibir nas telas dos cinemas com pouca roupa. Elizabeth Taylor e Richard Burton esbanjavam beleza vivendo na tela Cleópatra e Marco Antonio.

Nas matinês, o fortão Steves Reevers era invejado e admirado pelos rapazes, devido ao seu físico avantajado e seus feitos como herói em filmes mitológicos. Outros dos preferidos era o grandalhão John Wayne, sempre em seus papeis de cowboí, ou Charlton Heston vivendo heróis bíblicos, tendo como concorrente Victor Mature que ainda fazia sucesso no papel de Sansão, tendo como partner a bela Edir Lamar no papel de Dalila.

Um jovem cego de nacionalidade americana de nome Ray Charles tinha se apresentado no "Palácio de Mármore do Moinho São Jorge" e os Biriba Boys eram os prediletos dos amantes da dança. O churrasco ainda não estava em moda, mas a pizza era bem apreciada. O único lugar onde se podia comer a verdadeira redonda italiana, nos sabores aliche, calabresa e mussarela, era o "Nosso Bar" que ficava em frente às porteiras do trem e a Estação de Santo André.

Lá fora Nikita Krutchov brigava seriamente com John Kennedy por causa de uma grande confusão armada por Fidel Castro, levando o mundo ao desespero e a beira de uma guerra nuclear, por causa de uns mísseis instalado na Baía dos Porcos.

Agenor Domingues era discípulo do Lázaro alfaiate, antes que o mestre se tornasse bandido. Taubaté brilhava no palco do "Teatro de Alumínio", Kildare morria num acidente de motoneta na perigosa Av. D. Pedro II, o Tiro de Guerra era debaixo do viaduto, em frente a "Kovarick", o "New Seller" disputava com "O Repórter" as notícias da região, o "Ocara Achou Graça" era uma boa opção para os sábados, a cobiçada loira do DKW e a beldade morena em seu "Simca" circulavam em baixa velocidade pela Coronel.

Eu, que não era sócio do "Primeiro de Maio F.C", nadava no nas águas limpas do Rio Tamanduateí.

Eram os anos sessenta, década de mudança de hábitos e costumes. Década que deixou saudade, era no "TEMPO DO QUITANDINHA".

Texto: Ieso Nascimento


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